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SP estuda casa de assistência para viciados em crack

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Cracolândia em São Paulo

Uma legião de viciados em crack se encontra todos os dias nas redondezas do bairro da Luz, centro, bem ao lado de um dos prédios mais bonitos da cidade, onde funciona a Sala São Paulo. Calcula-se que duas mil pessoas vagam por ali em busca de droga, proporcionando um espetáculo trágico e desafiando os paulistanos, muitos consternados com o drama exposto, outros indignados com a inércia do poder público e grande parcela exigindo medidas imediatas, uma solução – como se houvesse uma só.

É possível ver alguns craqueiros desgarrados da turba sentados em outros pontos da região central. Lá do quarto andar, de um dos prédios próximos da praça da República, onde está o gabinete do secretário municipal de Saúde Januário Montone, não é preciso muito esforço para identificar estes viciados. Complicado mesmo é dar uma resposta à pressão da sociedade que se entusiasma com as notícias que chegam do Rio de janeiro, onde se decidiu recolher drogados mesmo contra a vontade deles – quem sabe a solução, pensam.

A experiência carioca está sendo estudada pela prefeitura, diz o secretário paulistano, nas duas conversas que tivemos semana passada – uma delas no próprio gabinete e a outra no Jornal da CBN, onde promovemos série de entrevistas sobre o crack. Nas duas ficou evidente o cuidado que tem para não causar constrangimento político, além de o esforço para diferenciar internação compulsória e acolhimento compulsório – nome do projeto que está sendo discutido com o prefeito Gilberto Kassab e as secretarias de Assistência Social, Trabalho e Negócios Jurídicos.

Montone não diz com todas as palavras, mas o que desconfio se confirma em consulta que fiz a médicos e psiquiatras sobre o assunto. A diferença entre o trabalho desenvolvido no Rio e aqui é a rede de assistência que está estruturada em São Paulo. E que ainda não existe para atender drogados confinados em prédios da prefeitura carioca.

Em um ano e meio, agentes comunitários fizeram cerca de 150 mil abordagens a moradores de rua que vivem no centro paulistano, uma população que beira 10 mil pessoas, das quais 4.350 foram encaminhadas aos serviços de atendimento, pouco mais de 2 mil foram internadas, 111 delas de forma involuntária – entre as quais havia 70 adolescentes.

Então São Paulo também é adepta da internação forçada? São 10% dos casos e apenas por decisão médica, ressalta o secretário.

O que se avalia nos gabinetes de São Paulo é o aumento da rede de acolhimento e atendimento às pessoas drogadas que começou com o Serviço de Atenção Integral aos Dependentes (SAID), clínica de internação rápida, que pode variar de 45 a 90 dias, com o objetivo de interromper o contato do paciente com a droga. Nos dados da prefeitura, desde 2010, passaram por lá mais de 500 usuários e um terço deles teria se reintegrado às famílias, aderindo ao tratamento. Há drogados encaminhados, também, para as Comunidades Terapêuticas contratadas pela prefeitura, nas quais haveria 250 vagas.

Em estudo, agora, está a criação de duas estruturas nesta rede de atenção aos drogados. Uma na chegada, com Centros de Acolhimento Especial, para onde pessoas identificadas em situação de risco seriam levadas de forma involuntária, teriam avaliação de profissionais da área social e de saúde e a seguir seriam encaminhadas para tratamentos específicos, desde que recomendado por um dos médicos do serviço. E a outra na saída, as Moradias Assistidas, para pacientes que apesar de terem passado pelo momento mais crítico do tratamento não têm condições de voltar para a rua pela perda de vínculos sociais. Eles ficariam em casas, gerenciadas pela prefeitura, com capacidade para abrigar até 10 pessoas, nas quais teriam à disposição programas de saúde, assistência social e requalificação profissional.

Ninguém sabe ao certo se esta estratégia, que ainda depende da concordância do prefeito Gilberto Kassab, poderá mudar o endereço e destino de parte daqueles drogados que vivem próximo da Sala São Paulo. E talvez o maior drama para eles, as famílias deles e os paulistanos em geral é que diante desta epidemia do crack, ninguém sabe ao certo qual a melhor solução. “O que não se pode ter é preconceito em relação a qualquer tipo de tratamento”, diz Montone.


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